Estatinas: o melhor escudo do coração. Evidências Científicas em Prevenção Primária e Secundária para doença arterial coronariana

A doença arterial coronariana (DAC) é uma das principais causas de morbimortalidade no mundo. O tratamento eficaz dessa condição envolve o controle de fatores de risco, como hipertensão, diabetes, tabagismo e dislipidemia. Entre as estratégias terapêuticas, o uso de estatinas se destaca devido à sua capacidade de reduzir o colesterol LDL e exercer efeitos anti-inflamatórios, estabilizando placas ateroscleróticas e prevenindo eventos cardiovasculares. Diversos estudos clínicos de grande porte demonstraram que as estatinas reduzem significativamente o risco de eventos cardiovasculares, tanto na prevenção primária (pacientes sem DAC diagnosticada) quanto na prevenção secundária (pacientes com DAC estabelecida).

A seguir, analisaremos os principais estudos que comprovam os benefícios das estatinas, classificando-os conforme sua aplicação na prevenção primária ou secundária da DAC.


Prevenção Primária: Redução do Risco em Pacientes sem Doença Cardiovascular Prévia

prevenção primária busca reduzir o risco de eventos cardiovasculares em indivíduos sem histórico prévio de DAC. Três dos maiores estudos que demonstram os benefícios das estatinas nesse contexto são o JUPITER, HOPE-3 e WOSCOPS.

JUPITER (2008)

O estudo JUPITER (Justification for the Use of Statins in Prevention: an Intervention Trial Evaluating Rosuvastatin) avaliou cerca de 17.800 pacientes com níveis normais de colesterol LDL, mas com proteína C-reativa (PCR) elevada, um marcador inflamatório associado ao risco cardiovascular. Os participantes foram randomizados para receber rosuvastatina 20 mg ou placebo. Os principais achados foram:

  • Redução de 44% no risco de eventos cardiovasculares maiores
  • Redução de 54% no risco de infarto do miocárdio
  • Redução de 48% no risco de AVC

Esse estudo demonstrou que, mesmo em indivíduos sem colesterol elevado, as estatinas podem reduzir significativamente o risco cardiovascular ao modular a inflamação vascular.

HOPE-3 (2016)

HOPE-3 (Heart Outcomes Prevention Evaluation-3) avaliou mais de 12.000 pacientes de risco cardiovascular intermediário, sem doença cardiovascular estabelecida. Os participantes foram tratados com rosuvastatina 10 mg ou placebo. O estudo mostrou que a estatina reduziu em 24% o risco de eventos cardiovasculares, reforçando a ideia de que as estatinas beneficiam até mesmo indivíduos sem DAC evidente.

WOSCOPS (1995): Primeiro Grande Estudo de Prevenção Primária

WOSCOPS (West of Scotland Coronary Prevention Study) foi um dos primeiros estudos a comprovar os benefícios das estatinas na prevenção primária. Envolveu 6.595 homens com hipercolesterolemia, mas sem histórico de doença cardiovascular. Os participantes foram randomizados para receber pravastatina 40 mg ou placebo. Os resultados mostraram:

  • Redução de 31% no risco de infarto do miocárdio não fatal e morte por doença coronariana
  • Redução de 22% na mortalidade total
  • Redução de 26% na necessidade de revascularização miocárdica

WOSCOPS foi pioneiro ao demonstrar que o uso de estatinas reduz significativamente o risco de eventos cardiovasculares futuros, mesmo em pessoas sem diagnóstico prévio de DAC.


Prevenção Secundária: Redução de Riscos em Pacientes com DAC Estabelecida

prevenção secundária busca reduzir a recorrência de eventos cardiovasculares em pacientes que já possuem DAC diagnosticada. Estudos como o 4S, HPS e PROVE-IT TIMI 22 foram fundamentais para comprovar que as estatinas melhoram a sobrevida e reduzem complicações cardiovasculares nesses pacientes.

4S (Scandinavian Simvastatin Survival Study, 1994)

4S foi um dos primeiros estudos a demonstrar os benefícios das estatinas na prevenção secundária. Com 4.444 pacientes que tinham doença arterial coronariana e colesterol elevado, o uso de simvastatina 20-40 mg resultou em:

  • Redução de 30% na mortalidade total
  • Redução de 42% na mortalidade por doença coronariana
  • Redução de 34% no risco de infarto do miocárdio não fatal

Esse estudo foi crucial para consolidar o uso das estatinas na prevenção secundária de eventos cardiovasculares.

HPS (Heart Protection Study, 2002)

HPS incluiu 20.000 pacientes com alto risco cardiovascular, incluindo diabéticos e indivíduos com colesterol apenas moderadamente elevado. Os resultados mostraram que o uso de simvastatina 40 mg reduziu eventos cardiovasculares em 24%, independentemente do nível inicial de colesterol, reforçando que todos os pacientes com DAC devem receber estatinas.

PROVE-IT TIMI 22 (2004): Intensidade do Tratamento Importa

Esse estudo comparou duas intensidades de tratamento com estatinas em 4.162 pacientes com síndrome coronariana aguda. Os pacientes foram randomizados para receber atorvastatina 80 mg ou pravastatina 40 mg. Os achados foram:

  • Maior redução do LDL (média de 62 mg/dL) no grupo atorvastatina
  • Redução de 16% no risco de eventos cardiovasculares no grupo de tratamento intensivo

PROVE-IT TIMI 22 demonstrou que uma terapia mais agressiva com estatinas proporciona benefícios adicionais na redução do risco cardiovascular em pacientes com DAC estabelecida.


Conclusão

As estatinas são fundamentais no manejo da doença arterial coronariana, com eficácia comprovada tanto na prevenção primária (pacientes sem DAC diagnosticada) quanto na prevenção secundária (pacientes com DAC estabelecida). Estudos como JUPITER, HOPE-3 e WOSCOPS demonstram que as estatinas reduzem significativamente o risco de eventos cardiovasculares mesmo em indivíduos sem hipercolesterolemia marcante. Já os estudos 4S, HPS e PROVE-IT TIMI 22 reforçam seu impacto positivo na redução da mortalidade e complicações cardiovasculares em pacientes com DAC já diagnosticada.Diante dessas evidências, o uso das estatinas deve ser fortemente considerado na prática clínica para reduzir a morbimortalidade cardiovascular, sempre levando em conta a individualização do tratamento e o acompanhamento adequado dos pacientes.

 

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